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A Alma Conservadora

Um beijo

Novembro 24, 2011

Laura Abreu Cravo

Tenho seguido a polémica da nova campanha publicitária da Benetton e devo confessar que me passa ao lado a motivação para as ferozes manifestações de indignação que tenho visto por parte de alguns católicos.

Em primeiro lugar, o Papa tem todo o direito de processar a marca. Independentemente de ser, na minha opinião, uma óptima campanha, é mais do que legítimo que Bento XVI e o Vaticano não aceitem que a sua imagem seja manipulada e usada por uma sociedade com fins lucrativos para vender camisolas.

Dito isto, aqui cessa a minha capacidade de perceber a indignação. A campanha é forte, polémica, envolve várias altas personalidades, mas não é jocosa, agressiva ou desqualificadora das pessoas em causa. Eu gostei, e se tivesse sido um cartoonista, um artista plástico ou uma qualquer entidade com fins não lucrativos a fazê-la, não teria a menor das dúvidas em recomendar aos indignados um lexotan.

Bento XVI não é apenas um líder espiritual, é um relevantíssimo agente político. E a sua imagem, neste caso concreto, foi usada para promover uma mensagem de conciliação. Posso estar enganada, mas se essa é também uma das mensagens da Igreja (pela qual tanto lutou João Paulo II no seu pontificado), os indignados não estão preocupados com a mensagem final passada pela utilização daquela imagem. Estão indignados porque lá está um beijo na boca entre aquelas duas pessoas. E, sinceramente, desde a primária que ver beijos na boca deixou de ser causa de sobressalto.

O comando é deles

Novembro 22, 2011

Laura Abreu Cravo

Eu bem tento não me alienar totalmente do mundo e dos nossos tempos e agarrar-me a uma réstia de comunhão sócio-cultural, mas a tarefa dos snobes é muito facilitada com a programação televisiva que nos atropela diariamente.

Primeiro, gostava que alguém tivesse a simpatia de me explicar porque é que temos 675 programas sobre gordos. De certeza que não bastava um? E os tais dos encantadores de cães? Não podem limitar-se a ter um blogue com os contactos para o caso de se dar a emergência de sermos abocanhados e não termos uma espingarda ali à mão?

Como se isto não fosse suficiente, acabei de tropeçar num reality show para noivas cujo objectivo é ir acumulando plásticas, semana a semana, para que a vencedora suba ao altar completamente remodelada.

O que me preocupa mais não são os gordos, os maluquinhos dos donos dos cães ou as infelizes das noivas. O que me preocupa é que todos eles têm uma audiência. E isso, meus amigos, já é coisa para me fazer questionar a democracia. Porque esta gente tem direito de voto.

Uma certa compaixão

Novembro 21, 2011

Laura Abreu Cravo

"Apenas casei, meu irmão, o sangue que girava nas suas veias, de nobre que era, degenerou para servil. Enojou-me quando o vi sentado a meu lado nos salões da condessa de Santa Bárbara, a quem chamava afectuosamente irmã, e a quem pedia perdão de a ter trazido à força ao trono de opulência em que a via sentada. Lembra-se muito bem que o encarei com uma certa compaixão que se dói do carácter rasteiro."

 

Mistérios de Lisboa, Camilo Castelo Branco

...

Novembro 17, 2011

Laura Abreu Cravo

 

Women's power e assim, tudo muito bonito, mas o certo é que, à conta da emancipação selvagem a que sou, todos os dias, sujeita, acabei a jantar gaspacho de pacote do Pingo Doce num dia de frio de rachar, tudo porque não havia ninguém para assegurar a logística da central de compras doméstica.

As mulheres da minha geração vão percebendo o importante não é procurar no homem com quem se casa, o nosso pai, mas sim a mãe. A nossa, a dele, ou qualquer uma que vá às compras. E saiba coser botões.

ABC do corpo humano

Novembro 14, 2011

Laura Abreu Cravo

Era raro enganar-se naquelas coisas. Cheirava à distância as falhas de carácter que considerava graves e inultrapassáveis e afastava-se desses antes que pudessem ter qualquer espécie de papel na sua vida. Mas, um dia, enganou-se. Conheceu uma pessoa cheia de fragilidades e inseguranças que disfarçava a ineptidão com uma generosidade sabuja.

Todos lhe diziam que era um verme, um homem sem princípios, de pequenos gestos e grandes trapaças. Ela ignorou os inúmeros avisos de conhecidos comuns e irresponsavelmente deu à criatura o acesso ao seu círculo e uma perigosa proximidade dos seus. Ele começou por fingir que os admirava também, cobrindo-os de bajulações reles. Ela defendeu-o sempre, até à última e irrefutável prova do seu engano e imperdoável ingenuidade. Influenciou aqueles que, mais tarde, iriam sofrer mais directamente nas mãos dele para que o defendessem também. E assim o fizeram. Sempre.

Até que chegou aquele dia, — um dos piores da sua vida — e ali estava, à sua frente, a materialização da traição, o comportamento torpe, covarde e infame.

Nunca percebeu se ele o fez por dinheiro ou pura inveja, mas o móbil era irrelevante. Um homem não faz aquilo. Ele acha que traiu um dos dela, mas o Direito tem um instituto chamado culpa in eligendo, (a responsabilidade pela escolha do terceiro que pratica o acto ilícito).

A culpa, agora, era só dela. Tal como seria o acerto das contas.

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